28 de setembro 2016
A Arte e a Ética da neuro-manipulação do Eu
Francisco Teixeira
Graças a avanços na área da neurotecnologia e da conjugação de conhecimentos de áreas como as neurociências, a bioengenharia, a inteligência artificial e a robótica, já é possível capacitar o ser humano de instrumentos que lhe permitem mostrar a sua atividade mental em tempo real, modelar a sua atividade mental para formas mais eficazes e adaptadas de funcionamento e controlar ambientes externos à própria pessoa. Estes instrumentos chamam-se brain-computer-interfaces ou interfaces cérebro-computador, que permitem captar a atividade mental em tempo-real e dar-lhe uma interpretação e significado quantitativo que nos permite utilizá-la de diferentes formas.
Quando queremos mostrar e comunicar a nossa atividade mental nada melhor que a arte. Traduzir a informação associada aos nossos estados mentais em cor, som e até mesmo em imagens, pode ser uma forma de nos relacionarmos com o mundo e comunicarmos com ele. Se essa informação, em vez de ser partilhada com as outras pessoas, for partilhada connosco e nos for devolvida em tempo-real, aos poucos, adquirimos a capacidade de modelá-la pois temos novas variáveis de informação acerca de como estamos a funcionar e de como o nosso cérebro está a trabalhar, e a isto chama-se Neurofeedback. De igual modo, se esta informação for de uma forma computacional, associada a um qualquer objeto robótico, este poderá ser controlado por mecanismos mentais.
Esta tecnologia transporta-nos para uma nova área apelidada de transhumanismo. Esta área é caracterizada pelo enhancement das capacidades humanas mentais que, como qualquer disciplina ligada ao comportamento humano e à biologia levanta questões éticas que deverão ser tidas em conta e debatidas de forma consciente.
Francisco Teixeira – Diretor do Serviço de Neurofeedback, Neurobios, Instituto de Neurociências.