Exposição Ordenamentos, de Bruno Moreschi
Local: Espaço Cultural Marcantonio Vilaça (complexo arquitetônico do Instituto Serzedello Corrêa)
Abertura: 29 de junho de 2017, às 19 horas
Visitação: De 30 de junho a 19 de agosto de 2017
Endereço: Setor de Clubes Esportivos Sul Trecho 3 Polo 8 Lote 3 - Brasília, DF
Visitação: de terça-feira a sábado das 9h às 19h
Entrada franca
Ordenamentos
Individual de Bruno Moreschi
texto de Caroline Carrion
A produção de Bruno Moreschi parece catalisada pelo próprio mundo, por intuições daquilo que se esconde atrás de fatos que à primeira vista se mostram banais, mas são donos de uma densidade velada. Suas obras aqui exibidas estão fortemente ancoradas na identificação das narrativas e outros construtos sociais que operam nos bastidores de sistemas institucionalizados como este espaço expositivo, trazidos à tona pela intervenção do artista , capaz de criar diferenças a partir de repetições.
É o caso de seu ArtBook, motivado pela constatação e mimese de padrões de linguagem caros ao sistema das artes; e de Contrate um profissional e Pintores, obras iniciadas a partir da catalogação de agentes invisíveis do meio artístico, como fotógrafos de obras de arte e pintores de paredes e que são convidados a realizarem parte dessas obras. Em Procura-se e Independência ou morte, o encontro é com profissionais que se definem como artistas mas não são aceitos como tal pelo circuito institucionalizado de arte contemporânea (como pintores de rua ou retratistas policiais). A participação deles abre espaço para questionamentos acerca de como se constitui a prática e a narrativa oficiais da arte.
Moreschi não necessita de hipérboles, basta-lhe ativar os mecanismos vigentes, identificados e extensivamente mapeados por ele – seja na elaboração de um retrato falado ou na reunião de registros fotográficos de uma suposta obra de arte. Sua potência crítica reside na perspicácia do olhar tornado fazer. Ao entrar em contato com sua produção, é inevitável se deparar com questões relativas à autoria de um trabalho artístico, ao registro de obras de arte e sua disseminação, à saturação e redundância das imagens e à manutenção de circuitos ideológicos através de linguagens hegemônicas naturalizadas.
É verdade que Moreschi correria o risco de cair em uma situação em que a obra seria índice, dado que a ideia em que ela se baseia seria o ponto focal da criação/intervenção artística. Mas ele escapa da armadilha da obra como pretexto justamente através de suas intervenções nos sistemas dos quais se ocupa – intervenções que, em geral, dão-se por um recuo do artista, que reconhece seu lugar privilegiado em relação a outras pessoas menos visíveis do mundo da arte e do mundo em geral.
Como resultado das complexas mediações estabelecidas entre a intuição – advinda da sensibilidade de Moreschi aos mecanismos ocultos do mundo – e a ação artística, o objeto adquire um caráter como se de necessidade. Fruto de rigorosos processos de mapeamento conduzidos com minúcia antropológica, a obra não poderia ser outra, visto que seu tempo é o agora e seu lugar é o aqui.
Ordenamentos não apenas exibe esse rico conjunto de obras pela primeira vez em Brasília, mas também torna acessível ao público o processo de sua criação: materiais de pesquisa, estudos e documentos diversos são utilizados como parte integrante da expografia, agregando ainda mais uma camada de significação aos trabalhos e possibilitando leituras alternativas. Ao exibir seus mapeamentos e catalogações, mais que apresentar seu processo de trabalho, Moreschi desvela mecanismos a que, em geral, apenas os iniciados têm acesso. Mais que expor que a arte contemporânea é um campo de relações comunicacionais em rede, o artista oferece algumas chaves para compreensão desse circuito retroalimentar.
Caroline Carrion.