(Emitido na SIC Notícias a partir de 27 de Dezembro de 2006)
“Lançamos o barco,
Sonhamos a viagem:
Quem viaja é sempre o mar.”
(Dito do meu avô Celestiano)
in “Mar Me Quer”, de Mia Couto
Uma maré representa uma força natural que condiciona o espaço e o tempo da comunidade piscatória da Carrasqueira, em Alcácer do Sal. Mulheres, mães e avós acompanham os homens na pesca em pleno estuário do rio Sado, às horas impostas pela maré.
Uma maré representa, também, uma profissão sem futuro e o fim de uma comunidade tal como hoje existe. Porque os recursos do rio estão a esgotar-se e porque a quarta geração de pescadores não pretende lançar redes às águas do Sado.
Uma maré significa, ainda, a existência de duas margens. Opostas, com Homens Iguais. Opostas, no desenvolvimento. Opostas, com ritmos diferentes. Opostas, porque uma suprimirá a identidade das marés vividas pela outra.