“Tangles and Knots”, da diretora australiana Renée Marie Petropoulos, é um filme sobre relacionamento familiar que acompanha mãe e filha enquanto exploram os limites de uma relação íntima e complexa.
Com estreia no Berlinale 2018, na mostra Generation 14Plus, e desenvolvido como trabalho de conclusão de curso da diretora na Universidade de Columbia, “Tangles and Knots” investiga como até os laços familiares mais ternos, como o vínculo entre mãe e filha, podem se tornar tóxicos. Após passar por diversos festivais internacionais — incluindo SXSW, Sydney Film Festival e Palm Springs International Shortsfest —, temos o prazer de lançá-lo online hoje, com exclusividade no Vimeo. Este é mais um dos grandes filmes no Vimeo que valem a pena assistir.
Para celebrar a estreia de hoje, conversamos com a cineasta Renée Marie Petropoulos sobre o processo de criação do filme Tangles and Knots. Confira o que ela nos contou:
Sobre a importância de escrever sobre o que você conhece:
“Como cineasta, sempre me atraíram narrativas protagonizadas por mulheres e histórias de amadurecimento com um certo desconforto. A inspiração para o filme ‘Tangles and Knots’ foi uma espécie de evolução. Surgiu de uma obsessão contínua que eu tinha por temas sobre relacionamentos familiares, especialmente relações complicadas entre mães e filhas.
Durante os anos de tese na Universidade de Columbia, eu desenvolvia diferentes projetos sobre maternidade — tanto curtas-metragens quanto longas. Estava interessada em explorar versões desse vínculo entre mãe e filha que desafiassem expectativas sociais e distorcessem os papéis familiares tradicionais.
Mas, no fim, nada do que eu escrevia parecia realmente autêntico. Depois de um verão particularmente frustrante escrevendo em círculos, algo se encaixou. Decidi seguir aquele conselho meio clichê de roteiro: ‘escreva sobre o que você conhece’. E comecei a olhar para dentro, para a minha própria relação com minha mãe.”

Sobre adaptar experiências pessoais para o cinema:
“Como cineasta, acho o vínculo entre mãe e filha provocante e poderoso. Para muitas mulheres, esse relacionamento é fundamental: nossas mães costumam ser os primeiros modelos do que é ser mulher. Há tantas emoções cruas e expectativas sociais envolvidas na maternidade — há muito o que explorar!
Minha relação com minha mãe era (e ainda é) íntima, muito aberta, imperfeita e, claro, bastante complexa. Às vezes, agíamos mais como amigas do que como mãe e filha. Minhas amigas adoravam conversar com ela, porque ela sempre foi muito acolhedora e fácil de lidar. Nossa casa estava sempre aberta para todos. Os meninos que frequentavam esses encontros tratavam minha mãe como parte do grupo. Os limites entre nós se confundiam com frequência. Havia uma ternura íntima e um perigo instigante nisso tudo. Sinceramente, só percebi o quanto nosso vínculo era especial muito tempo depois — e sei que não seria quem sou hoje sem ela.
À medida que desenvolvia essas personagens e seguia por um caminho ficcional mais sombrio, os elementos autobiográficos me ajudaram muito a manter a história com os pés no chão.”

Sobre começar com detalhes para escrever diálogos:
“Acho extremamente difícil escrever os diálogos de um filme! Tenho muitas dificuldades nessa parte. Como cineasta, sou muito mais conectada aos elementos visuais e aos gestos do que às falas em si.
Seguindo o conselho de um professor da Columbia, comecei o roteiro criando um documento extenso com um acervo de lembranças detalhadas. Desde pequenos gestos e momentos carinhosos com minha mãe, até situações inusitadas que aconteceram nos nossos encontros — e tudo o que ficou no meio disso. Esse arquivo virou tanto fonte de inspiração quanto a espinha dorsal da narrativa. Foi essencial para compor as cenas mais íntimas. Acabei incorporando esse ‘método’ do arquivo de memória em muitos dos projetos em que estou trabalhando atualmente, mesmo aqueles que são mais voltados ao gênero ou que não são tão pessoais. Isso me ajuda a encontrar falas mais divertidas e autênticas e a construir personagens e situações com mais profundidade. É um processo difícil, mas muito catártico.”

Sobre explorar um relacionamento complexo:
“Foi uma linha bem difícil de seguir. Desde o começo, eu sabia que, independentemente da abordagem, o público teria julgamentos sobre a natureza dessa relação. Esse tipo de vínculo entre mãe e filha — quase como melhores amigas ou irmãs — geralmente aparece em tom de comédia: em outro universo, Michelle seria a ‘mãe descolada’ da Regina George usando roupas da Juicy Couture, a Marissa Cooper impulsiva de ‘The OC’ ou a espirituosa Lorelai de ‘Gilmore Girls’. Eu queria fugir completamente dessa leitura e ancorar o relacionamento delas em um realismo cru, misturando momentos tóxicos e ternos.
Algo que ajudou bastante foi alternar a perspectiva entre mãe e filha. Ao longo do filme, passamos a ter momentos mais íntimos com Michelle. Confesso que ter duas protagonistas num curta-metragem é uma ideia ousada e difícil de estruturar. Não culpo meus colegas que estranharam quando eu apresentei isso nas oficinas de roteiro. Mas eu sabia que essa identificação com a mãe era essencial para tornar a jornada delas mais palpável.”

Sobre os desafios de produzir um projeto universitário:
“Enfrentamos vários desafios em todas as etapas da produção do filme Tangles and Knots. Desde o teor pessoal da escrita, passando pelo processo exaustivo de financiamento coletivo, até o clima imprevisível no set, a energia incansável dos figurantes adolescentes, além de animais e insetos em cena. Mas o maior desafio veio na pós-produção, que aconteceu nos Estados Unidos.
A pós-produção do curta-metragem demorou um ano inteiro para ser concluída, por falta de verba. Eu editava o filme entre trabalhos, aulas e outras filmagens, sempre que dava. “Tangles and Knots” foi meu mergulho mais profundo em uma narrativa semi-autobiográfica, e foi difícil, no começo, enxergar o filme com objetividade na durante a edição. No fim das contas, o atraso acabou sendo uma bênção disfarçada, pois me deu tempo para repensar toda a estrutura.
Mais adiante, colaborei com a editora Chelsea Taylor e outros colegas da Columbia para obter opiniões externas. Por meio dessa parceria, descobrimos que os momentos silenciosos entre Michelle e Laura revelavam muito mais sobre o relacionamento delas do que os diálogos. Quando finalizamos a edição do filme, ainda tivemos que organizar sessões de ADR com alguns atores — a maioria estava de volta na Austrália. Foi uma pequena odisseia encontrar um momento em que eu e os atores estivéssemos todos no país ao mesmo tempo. As maravilhas de tentar conciliar agendas!”

Sobre a escolha de filmar na Austrália:
“Para ser sincera, gosto muito de filmar nos dois países. Mas, neste caso, a escolha foi puramente criativa. Eu estava decidida a rodar o filme na Austrália, minha terra natal, justamente por causa da inspiração pessoal da história. A especificidade desse universo era fundamental. Embora fosse possível adaptar a trama para o contexto americano, isso alteraria drasticamente vários elementos: das personagens ao design de produção, dos cenários à trilha sonora.
No geral, filmar nos Estados Unidos e na Austrália é bastante parecido, com algumas diferenças. Os dias de filmagem na Austrália são mais curtos, ninguém estranha meu sotaque, o café é maravilhoso e, se você chega atrasado ao set, é melhor levar um engradado de cerveja para a equipe.”
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